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História do Mel

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Mensagem  Mestre da Culinária Qui 13 Mar 2008, 12:36

História
O mel é utilizado pela humanidade desde a pré-história. Por vários séculos, foi retirado dos enxames de forma extrativista e até mesmo predatória, muitas das vezes causando danos ao meio ambiente e matando as abelhas. Tratava-se, pois, de uma verdadeira aventura, pois muitas das vezes as abelhas nidificavam em locais de difícil acesso e de grande risco para os coletores.

Entretanto, com o tempo, o homem aprendeu as técnicas de manejo dos enxames de forma que houvesse maior produção de mel sem causar prejuízos ambientais, dando origem assim à apicultura.

Várias civilizações consideravam o mel como um alimento de excelência, existindo inúmeras referências em pinturas rupestres e em manuscritos do antigo Egito, Mesopotâmia, Grécia, Israel e Roma.


Na Idade Antiga
De acordo com a obra de Eva Crane, Honey, a Comprehensive Survey, há informações de que os sumérios, que se estabeleceram na Mesopotâmia por volta de 5000 a.C., já usavam o mel como fonte de alimento. Dos textos sumérios que sobreviveram até os nossos dias são conhecidas duas passagens que falam a respeito do mel.

Existem registros de que, em torno de 2400 a.C., os egípcios começaram a colocar as abelhas em potes de barro. A retirada do mel ainda era muito similar à caçada primitiva, entretanto, os enxames podiam ser transportados e colocados próximo à residência do produtor. Os enxames passaram a ser transportados e colocados próximo à residência do produtor.

Os babilônios já usavam o mel também na Medicina.

Homero, o poeta, na sua consagrada Odisséia, fala sobre uma mistura de mel e leite, chamada “melikraton”, que era considerada uma excelente bebida; menciona também que as filhas órfãs de Píndaro eram alimentadas pela deusa Vênus (Afrodite) com queijo, mel e vinho, os mesmos alimentos usados por Circe, a feiticeira, que fascinou os companheiros de Ulisses.

Todavia, escavações feitas em Feston, na ilha de Creta, por companhias arqueológicas italianas, trouxeram à luz colmeias de barro que pertenceram à época minóica, 3400 a.C., numa época bem anterior a Hesíodo e Homero. Outros achados destas escavações revelam o alto estágio da apicultura desta época. Entre eles estão duas jóias de ouro; uma delas mostra duas abelhas, datada de 2500 a.C., e foi encontrada nas escavações da antiga cidade de Cnossos.

Séculos mais tarde, os gregos começaram a colocar os seus enxames em recipientes com forma de sino feitos de uma palha trançada chamada de colmo, vocábulo este que deu origem à palavra colméia. Porém, teria sido Aristóteles quem provavelmente teria realizado os primeiros estudos com métodos científicos a respeito de abelhas utilizando para tanto uma colmeia cilíndrica feita com ramos de árvores entrelaçados com uma mistura de barro e estrume de vaca. Esta colmeia na atualidade é chamada de “anastomo”ou “cofini” e, em certas regiões da Macedônia, ainda é usada em produções artesanais.

Contudo, muitas civilizações da Antigüidade consideravam as abelhas como seres sagrados e que por isso faziam parte de cultos religiosos, surgindo assim várias lendas a respeito desses insetos. O mel era muito usado pelos antigos egípcios, especialmente pelos sacerdotes, tanto nos rituais e cerimônias como para alimentar animais sagrados.

Por sua vez, o mel também foi considerado um símbolo de riqueza e de poder. Nas pirâmides dos faraós, por exemplo, foram encontrados, entre vários tesouros, mel no estado cristalizado. Inclusive, algumas experiências feitas com esses achados demonstraram que, mesmo depois de três milênios, o mel das tumbas dos antigos reais egípcios ainda poderia ser utilizado para consumo, constatando-se, assim, o seu longo estado de conservação, embora tivesse perdido algumas de suas propriedades.

Na Bíblia, o mel também é ocasionalmente mencionado em diversas passagens do Antigo Testamento, sendo citado em alguns Salmos:

Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais do que o mel à minha boca. (Salmo 119:103)

O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. (Salmo 19:9-10)

No livro de Provérbios, o mel é mencionado pelo autor como um medicamento natural, o que demonstra que os hebreuss, assim como os babilônicos, também já utilizavam esta substância não só com fins alimentares mas também terapêuticos:

Palavras agradáveis são como favos de mel: doces para a alma e medicina para o corpo. (Provérbios 16:24)

Em sua poesia de Cântico dos Cânticos, Salomão, o mesmo autor da maioria dos Provérbios, faz outra menção ao mel, incluindo-o como um dos mais excelentes produtos da época:

Já entrei no meu jardim, minha irmã, noiva minha; colhi a minha mirra com a especiaria, comi o meu favo com o mel, bebi o meu vinho com o leite. Comei e bebei, amigos; bebei fartamente, ó amados. (Cantares 5:1)

No Evangelho segundo Lucas, no Novo Testamento, diz que Jesus, depois de ter ressuscitado, comeu um favo de mel quando apareceu aos discípulos:

E, por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhe disse: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então, lhe apresentaram um pedaço de peixe assado [e um favo de mel]. E ele comeu na presença deles. (Lucas 24:41-43)

Sabe-se também que, de acordo com o relato bíblico, São João Batista alimentava-se de gafanhoto e mel no deserto.


Desenvolvimento da apicultura
Durante o período medieval, vários estudos iniciaram-se com o objetivo de preservar as abelhas para a coleta do mel.

O uso de recipientes horizontais e com comprimento maior que o braço do produtor passou a ser então uma das primeiras tentativas de se promover uma produção racional de mel. Em tais colmeias, para colheita do mel, o apicultor jogava fumaça na entrada da caixa, fazendo com que todas as abelhas fossem para o fundo, inclusive a rainha, e depois retirava somente os favos da frente, deixando uma reserva para as abelhas manterem-se.

Posteriormente, os apicultores começaram a trabalhar com recipientes sobrepostos, em que o apicultor removeria a parte superior, deixando reserva para as abelhas na caixa inferior.

Francis Huber criou então um modelo que prendia cada favo em quadros presos pelas laterais e os movimentava como as páginas de um livro, o que de certa maneira veio contribuir em muito para o desenvolvimento da apicultura

Assim as técnicas foram aos poucos se desenolvendo até que, em 1851, Lorenzo Lorraine Langstroth observando os espaços deixados pelas abelhas dentro das colméias. Assim, tendo inspirado-se no modelo de colmeia usado por Huber, Langstroth resolveu estender as barras superiores já usadas e fechar o quadro nas laterais e abaixo, mantendo sempre o espaço abelha entre cada peça da caixa, criando, desta maneira, os quadros móveis que poderiam ser retirados das colmeias pelo topo e movidos lateralmente dentro da caixa. A colmeia de quadros móveis permitiu a criação racional de abelhas, favorecendo o avanço tecnológico da atividade como a conhecemos hoje.


Introdução no Brasil
O padre José de Anchieta teria sido o primeiro a relatar da abundância do mel e das espécies de abelhas existentes no Brasil, e assim diz:


Encontram-se quase vinte espécies diversas de abelhas, das quais umas fabricam o mel nos troncos das árvores, outras em cortiços construídos entre os ramos, outras debaixo da terra, donde sucede que haja grande abundância de cera. Usamos do mel para curar feridas, que saram facilmente pela proteção divina. A cera é usada unicamente na fabricação de velas.


Entretanto, as abelhas nativas da América do Sul eram consideradas como venenosas pelos colonizadores portugueses. E segundo o Dr. Paulo Nogueira Neto, estudioso das abelhas Meloponineos para o Museu Nacional, "é provável que a maior parte do mel e da cera usados nos três primeiros séculos após o descobrimento viesse da abelha Uruçu, a mais vulgar e a mais abundante em todo o Brasil."

Atribui-se aos jesuítas a introdução da produção de mel no Brasil durante suas missões colonizadoras pela Região Sul, no século XVIII. E, com a expulsão desses padres da região, as abelhas teriam se espalhado pelas matas.

No ano de 1839, o padre Antonio Carneiro Aureliano teria importado várias colméias de Portugal e as instalado no Rio de Janeiro. Há registros de que, em 1841 já existissem mais de duzentas colméias na Quinta Imperial.

Em 1845, os imigrantes alemães teriam trazido da Alemanha algumas espécies de abelhas e teriam dado início à apicultura na Região Sul.

Entre os anos de 1870 e 1880, Frederico Hanemann trouxe espécies de abelhas italianas para o Rio Grande do Sul.

Em 1895, o padre Amaro Van Emelen trouxe abelhas da Itália para Pernambuco.

No ano de 1906, Emílio Schenk também importou abelhas italianas, porém vindas da Alemanha.

Por certo, além destas, muitas outras abelhas foram trazidas por imigrantes e viajantes procedentes do Velho Mundo, mas nem sempre houve registro desses fatos. Iniciava-se assim a apicultura brasileira.

Durante mais de um século a apicultura no Brasil foi se desenvolvendo, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. Contudo, também em São Paulo e no Rio de Janeiro a atividade veio a se desenvolver.

No século XX, a apicultura no Brasil destnou-se ao atendimento do mercado de consumo, deixando de ser uma produção voltada apenas para as necessidades domésticas do homem do campo.

Na segunda metade da década de 1950, Warwick Estevan Kerr, com o apoio do Ministério da Agricultura, trouxe da África rainhas de colmeias africanas produtivas e resistentes a doenças. A intenção do governo brasileiro era a realização de pesquisas comparando a produtividade, rusticidade e agressividade entre as abelhas européias, africanas e seus híbridos, selecionando então a abelha que viria a ser considerada como a mais apropriada às condições do país.

No entanto, as abelhas africanas mostraram-se bastante agressivas, mas apresentam uma maior produtividade do que as abelhas italianas, sendo hoje as espécies mais utilizadas pelos apicultores brasileiros.
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