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Castanheiro dos Vales - Um Caso de Amor

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Mensagem  Mestre da Culinária Qui 13 Mar 2008, 13:18

Castanheiro dos Vales - Um Caso de Amor

Quando algumas autarquias não valorizam as árvores nos espaços públicos, reflectindo-se nas podas bárbaras e na ligeireza com que se desfazem de algumas de grande porte a pretexto de uma requalificação, a maioria das cabeças dos arquitectos não suportam a ideia de preservação do património arbóreo nos espaços públicos. Ainda recordo a brutalidade de mão criminosa ter serrado uma árvore pelas cruzes, para os lados de Outeiro Seco, ou então o arranque sádico de algumas jovens árvores na cidade de Chaves e a sua plantação de raiz para o ar. Estes maus exemplos da marginalidade humana poderia a levar-nos a pensar que os homens voltaram as costas às árvores e não é, felizmente, assim.

Vou-vos apresentar o caso exemplar do castanheiro dos Vales: espécie «castanea sativa», do lugar dos Vales, freguesia de Tresmines, concelho de Vila Pouca de Aguiar. Tive conhecimento, em Novembro de 2005, deste castanheiro patriarcal, durante a Festa da Castanha de Vila Pouca de Aguiar e na Sexta-Feira Santa a seguir estava eu a visitá-lo como quem peregrina para um santuário. Recebeu-me de uma forma hospitaleira a esposa do Fernando Marques, Presidente da Junta de Freguesia de Tresmines. Já passava das treze horas e ao tentar-me despedir não esteve com meias medidas, pano na banca junto ao forno, e enquanto uma grande fornada apurava a cozedura, abre um folar quentinho e cheiroso, enquanto pedia a uma amiga para ir buscar uma caneca dum vinhão tinto vindo das soalheiras encostas de Porrais - Murça. Aconchegou-se o estômago, floriu-se a alma e ganhou-se uma amiga. Hoje toda a família é tida por mim em grande apreço e amizade.

Fiquei com o Castanheiro dos Vale no olho, percorri mentalmente o distrito de Vila Real para ver se haveria mais algum com esta imponência e nada. Melhor dizendo, só as saudades do colossal “Castanheiro de Aldarete”, da freguesia de Sedielos, concelho do Peso da Régua, desaparecido na década de cinquenta do século passado (dentro do seu tronco vivia uma família com o seu tear). Havia, ainda, o “Castanheiro de Paradela de Guiães”, no concelho de Sabrosa, imponente e generoso, junto ao cemitério, a sua frondosa e refrescante sombra incomodou mão incendiária e assassina, ardendo em 1990(?).

Portanto, a classificação do Castanheiro dos Vales como de interesse público vinha mesmo a calhar e as primeiras tentativas esbarraram na mesquinhez e azedume do usufrutuário. Só que, diz o povo, «não há mal que sempre dure…» e o dono foi sensível à sua venda, depois de abordado pelo Fernando Marques. Este pôs tanto empenho na sua compra que tive de ser eu a aconselhar-lhe comedimento no preço. Até que me informou, pelo filho Duarte, que o Castanheiro já era deles e pediu para se andar com o processo de classificação.

O processo iniciado na Direcção Geral de Recursos Florestais, já está em marcha, na Circunscrição Florestal do Norte e dentro de poucos meses será mais uma árvore de interesse público e que vai ajudar na promoção turística da região.

Pai e filho estão felizes por terem a posse uma árvore patriarcal e sentem um orgulho imenso que querem repartir com os que o pretendam visitar. Para aquelas paragens até parece haver uma taberna renovada que poderá ser motivo para se beber um copo e cavaquear-se um pouco.

Perante este singular caso de amor ao secular Castanheiro dos Vales decidi elegê-lo para imagem do meu postal de Boas Festas, correndo mundo e hoje apresento-o de novo aos leitores do Notícia de Chaves.
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