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A origem da Batata

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Mensagem  Mestre da Culinária Ter 04 Mar 2008, 15:40

Segundo Leite de Vasconcelos, a primeira vez que a palavra batata apareceu num dicionário da língua portuguesa foi em 1647, no “Thesouro da língua portuguesa”, de Bento Pereira.
No entanto, no anúncio para a venda de uma propriedade em Trás-os-Montes, na Internet, vi a indicação de que foi no terreno anexo à mesma que se semearam pela primeira vez batatas em Portugal, em 1780.
Devemos, pois, aos nossos compatriotas trasmontanos as indispensáveis batatas fritas para acompanhar o bife com o ovo a cavalo. E também os pacotinhos (já pacotões) de fritas para comer na praia.
Efectivamente, consta dos anais que em 1797, a Academia Real de Ciências atribuiu, por motivo desse pioneirismo, a D. Teresa de Sousa Maciel Girão, mãe do primeiro Visconde de Vilarinho de S. Romão, uma medalha de ouro, no valor de 50 mil reis.
A primeira colheita obtida por aquela senhora foi de 200 quintais.
Foram os soldados de Francisco Pizarro, explorador espanhol que conquistou o Peru, em 1531, que encontraram este tubérculo, que os incas já cultivavam e consumiam desde tempos imemoriais. E chamavam-lhe pappa.
Um companheiro de Pizarro, Pedro Cieça, mandou alguns exemplares da pappa peruana para a Espanha. Aí causou curiosidade e mandaram-nos de presente para o Papa, em Roma.
Os espanhóis puseram-lhe o nome de patata, (nome de outro tubérculo peruano), embora em alguns dialectos castelhanos continuem a chamar-lhe pappa, como os antigos incas.
Foi o cientista francês Charles de l’Écluse, em Viena de Áustria, que fez o estudo botânico da planta, que baptizou de “Solanum tuberosum”. Na descrição do tubérculo escreveu que era uma pequena Trufa, “tartufoli” , nome que os italianos adoptaram na sua língua.
Na sequência, com pequena deturpação passou na língua alemã para Kartofel, e em russo com grafia ligeiramente diferente para kortopfel.
Hoje é um elemento essencial e indispensável na culinária, em quase todo o mundo.
Mas, nos primeiros séculos, mesmo em Espanha, a batata era um alimento para pobres, e de último recurso. Cozinhava-se nos asilos, e na tropa, para os soldados.
Em tempo de guerra, na Irlanda, como durante a guerra dos Trinta Anos, os camponeses comiam-nas à falta de outro alimento.
Noutras alturas, davam-nas ao gado, que normalmente não é esquisito de boca.
Tanto na Prússia, como em França, houve tentativas para incentivar a população a consumir a batata.
Um engenheiro agrónomo e nutricionista francês, Antoine Augustin Parmentier, tendo participado, como farmacêutico militar, na guerra dos Sete Anos, contra a Inglaterra e a Prússia, teve a desdita de ser feito prisioneiro na Alemanha.
Aí descobriu as qualidades nutritivas daquela planta.
Regressado a França, participou em 1771 num concurso, aberto pela Academia de Besançon, para identificar um possível substituto para o trigo, no fabrico de pão, posto que a “solução” da rainha Marie Antoinette ( “Se não há pão dêem-lhes brioches”) não solucionou o problema.
Parmentier apresentou um brilhante ensaio sobre o valor nutritivo da batata, que o tornou famoso.
Foi logo encarregado pelo soberano Louis XVI de lançar uma campanha publicitária, para vencer os preconceitos da população.
Para isso, o rei concedeu-lhe um terreno na planície de Sablons, en Neuilly, para o cultivo experimental da batata.
Parmentier concebeu então a ideia de despertar a curiosidade da população, mandando cercar a propriedade e colocando soldados de sentinela para a guardarem.
Claro que o povo estava ansioso por espreitar e ver, pelos seus próprios olhos, que tesouro tão importante estava a ser guardado.
Quando as redondas batatinhas estavam prontas para consumo, os soldados receberam ordens para fechar os olhos e deixarem alguns curiosos entrarem.
Foi assim, através do roubo, que os franceses aprenderam a comer batatas.
O “lançamento oficial” realizou-se em 24 de Agosto de 1785, em Versailles, com a presença de toda a corte, a quem foi oferecida uma refeição, na composição de cujos pratos todos, participa a nova estrela – a batata.
Vitorioso, Parmentier ofereceu ao rei e à rainha ramos de flores da batateira, afirmando que, daí em diante, já não havia motivos possíveis para a fome!
Na língua francesa o tubérculo usou, durante a sua história, nomes derivados dos que já indiquei para outros idiomas. Mas o que predominou foi “pomme de terre” (maçã do chão), que parece ter sido utilizado, pela primeira vez, em 1762, pelo botânico Henri Louis Duhamel du Monceau.
No dialecto alemão da Áustria usa-se também a mesma semântica – Erdapfel, que quere dizer o mesmo – e também na língua hebraica moderna a batata se chama da mesma maneira “Tapuah Adamá” (maçã da terra). O apelido de patata está reservado para a muito consumida batata doce.

Voltando ao que sucedeu em Portugal, o Visconde de Vilarinho de S. Romão, filho da primeira promotora do cultivo da batata, a que já me referi, escreveu o provavelmente primeiro “Manual Prático da Cultura da Batata”.
Aquilino Ribeiro queixava-se de que a batata, cozida sem casaca, fica espapaçada e desenxabida.
Pessoalmente confesso que não tenho habilidade nenhuma para tirar a casca à batata cozida, para a comer.
Mas, agora que penso em espapaçada, pergunto aos entendidos se a palavra portuguesa “papa” (qualquer substância mole, desfeita quando cozida), apesar de lhe atribuírem etimologia latina, não terá relação com o nome que os incas davam à batata, com que os espanhóis presentearam o Papa.
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