A dieta mediterrânica, o vinho e a cerveja

Desde o estudo de Ancel Keys, nos anos 50, que se foram encontrando evidências de que o padrão alimentar praticado durante centenas de anos na bacia mediterrânea pode contribuir para a melhoria da saúde global da população, sendo, simultaneamente, uma fonte de prazer e bem estar. Nos dias de hoje é, porém, indispensável que este regime seja enquadrado num estilo de vida activo, em que o exercício físico deve ser uma constante.
Como é sabido, a dieta mediterrânica tornou-se conhecida pelo consumo abundante de frutas e vegetais, cereais pouco refinados, frutos secos e legumes; a gordura normalmente usada é o azeite e as fontes de proteína são o peixe e a carne de aves (em quantidade baixa a moderada), sendo a carne vermelha muito pouco utilizada; as refeições são, tradicionalmente, acompanhadas de um copo de vinho.
Recentemente, um outro estudo realizado por Trichopoulou et al, publicado pelo New England Journal of Medicine (NEJM)a), 348:26, June 26, 2003, e respeitante ao seguimento de mais de 2000 adultos gregos, em boas condições de saúde e cumpridores habituais da dieta tradicional mediterrânica, veio reconfirmar os dados obtidos por Keys: novamente se verificou existir uma relação inversa, forte, entre o cumprimento da dieta e a mortalidade. O estudo evidencia, ainda, uma associação, estatisticamente significativa, inversa, entre a razão de consumo de gorduras monoinsaturadas e saturadas e a mortalidade.
De acordo com os conhecimentos científicos actuais, a pirâmide alimentar respeitante a esta dieta pode ter variantes motivadas pela região do mundo em que é praticada. Assim, a fonte de gordura monoinsaturada, azeite no Mediterrâneo, pode ser óleo de canola (“rapeseed”), nos Estados Unidos da América do Norte, Indía, etc. Quanto ao vinho, nada indicia que possa ser mais indicado que a cerveja para consumo a uma refeição [Goldberg et al, Circulation, 103: 472-475; Doll et al, British Medical Journal, 315: 1664-1668;. Aliás, pouquíssimas pessoas saberão que o uso de cerveja supera, ou iguala, o do vinho na antiguidade, estando amplamente documentado o seu emprego na bacia mediterrânea, milhares de anos AC (Jesús R. Martínez Álvarez et al, Sociedad Española de Dietética y Ciencias de la Alimentación, Cerveza sin alcohol: sus propiedades, Marzo 2001). Na província española de Lérida, foram encontrados, há pouco, p. e., vestígios de um centro de fabricação de cerveja com indícios de datarem de há mais de 1000 anos AC (Lluís Serra et al, La cerveza en la alimentación de los españoles, Marzo 2003, Estudo).